A CARA E A CORAGEM

Volta para a discografia

O PRIMEIRO DA WEA

      Guilherme Arantes em 1978, inicia uma nova fase em uma nova 
gravadora. O som também pode ser considerado como novo, e voltado 
especificamente para o público jovem.
      Um destaque especial para a capa do disco, bastante original
e criativa, mostrando uma bonita montagem fotográfica.
      O disco criava o rock-balada, identificando e projetando o estilo
inconfundível do artista.




  
 

RELAÇÃO DE MÚSICAS

     1- Viva! 
          2- A Cara e a Coragem 
          3- Não vá pro Quarto Chorar 
          4- 14 Anos  
          5- Boa Viagem 
          6- Brazilian Boys 
          7- De Igual Pra Igual 
          8- Show de Rock 
          9- Brincos na Orelha 
          10- Mas Ela Não Quer, Mas Ela Não Pode 





           
LETRAS DE GUILHERME ARANTES Viva!
Você já notou pessoas ao nosso redor dizerem que estão indo de mal a pior e há sempre alguém de um pessimismo vulgar o qual já não tem mais nada pra acreditar
Podem dizer que o reino das trevas virá e tudo faz crer que as coisas irão se agravar podem surgir tempos difíceis pra nós mas eu hei de estar cantando a plena voz
Viva você, Viva nós, viva o dia Viva viver Viva a vontade de claridade que hoje me invade


A Cara e a Coragem
Sair só com a cara e a coragem da casa dos pais p'ra minha cabeça era barra pesada, eu não quis Deixar lá na sala burguesa o meu piano burguês e uma radio-vitrola, santuário dos meus iê iê iês Eu tinha pavor de um dia ter que parar de sonhar pra poder pagar o aluguel e pra me sustentar e perder regalias que os velhos me punham nas mãos pra as minhas idéias serem retalhadas sem discussão
Bastou um emprego a me impor socialmente e uma conta bancária suficiente pra eu ter, então, liberdade e o respeito geral Que diálogo é esse que tem preço e se vende? Eu quero é saber se a minha mãe me entende após eu comprar meu diploma de filho ideal
Eu fui projetado por eles pra ser o maior Um prêmio Nobel, um filósofo, um embaixador o menino brilhante e precoce que eles viam em mim nunca admitiram ter idéias tão próprias assim E há muitos anos eu sofro tentando explicar Que o meu caminho escolhido eles têm de aceitar podiam ter dado uma força, já que eu era incapaz de sair para o mundo com uma mão na frente, outra atrás
Não vá pro quarto chorar
Nós somos a nova safra dos homens Nós temos muitas missões a cumprir embora sempre pareça mais fácil das decisões sérias a gente fugir Eu quero ver os espíritos jovens usando todos seus potenciais independentes de modas que passam vivendo de acordo com seus ideais
Não vá pro quarto chorar que a infância já acabou pra quem já principiou a caminhada, auge da vida esqueçamos de bobagens se ainda temos tantas viagens
As nossas roupas berrantes e alegres fazem contraste aos nossos corações que estão cinzentos, nublados, inertes esperando a chegada das inovações Eu quero os jovens bem mais conscientes do seu papel, sua cruz, seu lugar que um dia tomem as rédeas do mundo mas sabendo que rumo pra ele vão dar



14 Anos Sabe quando eu tinha 14 anos como todos jovens urbanos eu nos bailes não ía dançar, e vocês ? Sabe eu me cansava de ver manequins belas moças não eram pra mim eram coisas de filme de amor filme francês E como solução da minha dor achei que eu devia ser cantor garotas e carros, roupas da moda festas incríveis da mais alta roda, nada, nada, nada, nada
Sabe quando eu tinha 14 anos os meus pais demoliam meus planos nos argumentos levavam vantagem com fatos cruéis
Sabe eu devorava as vitrines das ruas e as revistas de mulheres nuas brinquedos feito pra não se tocar e, talvez



Boa Viagem
Tem amigos seus em Nova York que vivem de artesanato Ou cantando bossa-nova nos bares se arranjam de qualquer jeito E lhe escrevem todo mês contando que lá é um barato Apesar de que às vezes pinte a dureza e eles têm de lavar pratos
Você diz que o pessoal por aqui está séculos atrasado Em comparação ao que você acha ser o mundo civilizado Você diz que aqui ninguém demonstra respeito ao seu trabalho De perder seu tempo lutando em vão você está cansado e velho
Boa viagem! Se o seu sonho é morar nos States compre a passagem, pague as taxas, faça as malas e se mande de vez
Você crê que logo ao descer do avião em solo ianque Os problemas e as neuroses vão te deixar no mesmo instante Você diz que lá na América as pessoas têm mais valia Quer dizer, que se você mudasse pra lá o sofrimento acabaria



Brazilian Boys

Amigos, eu chamei vocês aqui em minha casa pra falar de coisas que se sente um nó no peito quando se tem de falar Por todos esses anos eu tenho crescido ao lado de vocês a gente sonhou junto o mesmo sonho, cada qual com seus porquês E eu devo-lhes dizer que nenhum grão da nossa fé arrefeceu em mim talvez tenha mudado de figura por tudo que aconteceu Há pouco tempo atrás a gente ainda se encontrava por ai agora todos já viveram e são bastantes cada um por si
Come on! Come on! Feijão com arroz! Come on, Brazilian Boys!
Lá vão meus parabéns aos que conseguem sem nenhuma condição manter acesa a chama e em nenhum ponto colocá-la em questão E olhem, não foram poucos companheiros que no longo caminhar tiveram de vestir terno e gravata e sair pra batalhar Mas muitos, muitos mais a gente viu que não souberam aonde ir e eu sinto hoje estão todos abrasivos, céticos quanto ao porvir Só temos os vestígios de uma geração que mal sobreviveu as calças desbotadas são destroços dando um derradeiro adeus



De Igual Pra Igual
Você vai me encontrar somente quando quiser, posso ser sua rosa dos ventos bem como lhe passar em branco você tem nas mãos, ao seu dispor minhas vitórias todas Olha o peso da sua escolha recai sobre mim tenho a lhe oferecer meu canto em troca eu quero um peito aberto vamos conversar de igual pra igual conversa de companheiros Falar dos nossos problemas que, enfim são todos iguais e não ter nada obscuro separando nós dois pra empanar nossa luz vamos cantar pelo menos no mesmo tom Somos novas estradas virgens uma idéia atual nós no ano de 78, bem tempo de um ouvir ao outro tempo de criticar sem se atracar de sermos civilizados olha, eu sei que tenho defeitos como um homem qualquer sei que às vezes pareço piegas você às vezes também é piegas vamos conversar de igual p'ra igual conversa de companheiros


Show de Rock
O nosso disco está riscado há mais de 10 anos e a nossa cara xôxa não muda, Deus nos acuda
Haja paciência, haja vontade haja inocência e ingenuidade e dinheiro dos pais e dinheiros dos pais
Nossos temas instrumentais estão abomináveis os solos de moog e guitarra são intermináveis Pra pagar a wattagem, a viagem, a kilometragem pra comprar toda a aparelhagem, a megatonagem
Fico pasmado com a inércia que temos o tempo perdido pensando de menos e ensaiando demais e ensaiando demais
Nossas letras são uma papagaiada, só servem de de adorno O som não acrescenta mais nada os shows de rock dão sono

O nosso disco está riscado há mais de 10 anos...



Brincos na Orelha
Apesar da aparência sadia estou vendo que nada mudou em função do que se pretendia, que o delírio mais jovem buscou Os valores que a gente venera como símbolos desta geração se esconderam entre belas asneiras e já são peças de decoração
O receio que eu tenho é que o tempo Passe rápido, passe todo E a gente envelheça curtindo Assistindo feito bobo Brincos na orelha, cabelo transado Espírito velho em corpo enfeitado E o mundo girando, e o mundo girando E a gente sonhando, e a gente sobrando
Somos tão fatalmente cativos de dinheiro, padrões e medidas que esquecemos de ser criativos quando estão em jogo nossas vidas Os conflitos antigos são parte da família, da escola, e do emprego ainda a espera de alguém que os desate, alguém como você, meu amigo




Mas Ela Não Quer, Mas Ela Não Pode
Não convido mais você pra sair
passando das 9 horas já sei qual será a resposta já sei qual será a desculpa sua mãe é ranheta, seu pai é careta e você é uma garota certa
Não convido mais pra gente pegar aquela sessão maldita pra você ficar chocada que a platéia não é seleta me vejo obrigado a ser um bandido e dizer que vou estudar
Mas ela não quer, mas ela não pode o pai dela não quer, o pai dela não deixa
o pai dela não deixa...
Só quando casar você pode acampar no caso, com o teu marido ou então ir a alguma festa e amanhecer fora de casa se diz liberada, vivida e madura mas ouve descompostura
Só quando casar eles vão respeitar detalhes da sua vida como o homem que você ama tudo bem, isso é um velho esquema mas o que me irrita é que você não luta nem contra, nem a favor



FICHA TÉCNICA



Guilherme Arantes: piano, moog, orgão e voz
Sergio Magrão: baixo
Chicão: bateria
Ivo: guitarra
Paioletti: trumpet
Arlindo: trombone
Roberto Sion: sax alto e flauta
Bolão: clarinete
Wilcox: vibrafone Mário Tomazzoni, Elias Slon, Germano e Veredes: violinos
Perez Dworezk e Grick Lehringer: violas
Antonio Del Claro e Shinji Yeda: cellos Rogério Duprat: regência de cordas

Guilherme Arantes: arranjos


Direção artística: Mazola
Direção de produção: Marcus Vinicius
Estúdio de gravação e mixagem: Vice-Versa Técnicos de gravação: Wilson Roberto e Renato Viola
Mixagem: Marcus Vinicius e G.Arantes
Assistentes de estúdio: Nelson e Ivo Barreto
Capa - Criação: G.Arantes e equipe Wea
Fotos: Jean Pierre Attelis (Gang)
Produção foto: Gerson Piro (Gang)
Arte final: Ruth Freihof Produzido por Marcus Vinicius


Webmaster: Francisco Garcia Neto
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